Ah se autenticidade vendesse livros.
- Lucas Jasper
- 19 de out. de 2015
- 4 min de leitura

Fotografia: Lucas Jasper.
Não, eu não sou um leitor assíduo ou voraz. Infelizmente não. Mas venho pensando nisso. Não me refiro a livros especificamente, o título, é como se diz, meramente ilustrativo, mas tem o objetivo de chamar atenção para algo. O que há de autentico no que se consome hoje. É certo que muita coisa é autentica e isso é ótimo. Talvez caiamos naquela que parece a versão midiática da questão "quem veio primeiro, o ovo ou a galinha?". Nesse caso seria: "Tem muita coisa ruim na mídia, por que as pessoas gostam? Ou as pessoas gostam de coisas ruins por que está na mídia?". Em toda minha vida como produtor cultural caminhei lado a lado com produções de baixa e de alta qualidade. "Comerciais" e “Conceituais” "de qualidade", e poucas vezes vi ambas as características estarem numa mesma produção, seja ela musical, audiovisual, teatral ou qualquer outra vertente de arte que já vi ou participei. Primeiramente, não sou daqueles que pensam que comercial não precisa ter qualidade, e que a arte é algo para intelectuais. Penso que deve haver sim qualidade no que se oferece ao público, e principalmente que arte não é algo excludente, e, portanto deve ser oferecido a todos. Não vou entrar no mérito do bom e do ruim, isso claro, é pessoal. Penso também que cada qual tem seu espaço e que a afirmação que antigamente "era melhor" é mais uma distorção causada pela memória (ou falta dela) que carrega em si certa nostalgia. O ponto que quero chegar é, "cultura boa e ruim” sempre houve e haverá", O que diferencia é a importância que damos a uma e a outra. O dito popular (muitas vezes popularesco), distrai, diverte e faz bem, quando não é apelativo. O dito erudito, educa, engrandece e faz bem também, quando não é chato. Eu particularmente gosto daquilo que tenta fundir o popular com o erudito, aquilo que é uma simbiose de popular com erudito, algo do tipo, popular-erudito que diverte sendo inteligente. Por exemplo, literatura de cordel no Brasil. Quando penso em livros, Ariano Suassuna, que nesse quesito "é" um mestre. Cultura é a paixão da minha vida, todo tipo, de todo canto e em toda forma. Por que é na cultura que a raça humana mais se difere das outras. Conseguimos ser indivíduos sendo mais um. Cultura para mim é como o esporte, essas duas "coisas" tem um poder imenso sobre nós e provavelmente por isso seja nossa principal janela de conexão. Sempre tive sede por consumir cultura. Seja ela de onde for, o que quero é conhecer mais o ser humano. A cultura está em tudo que o ser humano faz. De um simples pedaço de pão numa cidade pequena ao sul do Zimbábue, como num show de uma grande banda no maior festival de música do mundo. Cultura pode ser cara assim como pode ser aberta ao público (não confunda com gratuita). Cultura, seja ela qual for, engrandece, enaltece, referencia, desenvolve, modifica, edifica e também diverte. Cultura é o que nós somos enquanto parte integrante da raça humana. É de onde viemos, o que somos e o que seremos, e é aqueles além de nós mesmo. Chegando aqui nesse parágrafo comecei a pensar no título desse texto. Comecei ele para falar que precisamos realmente rever o que andamos vendo, ouvido e lendo. Os tempos são duros para quem produz visando qualidade invés de lucro por lucro. Sim! Há lucro na qualidade, no esmero artístico, na dedicação criativa. Vivemos mais do que nunca a era da informação. Da velocidade com que se consome o "mundo". Somos todos vorazes por notícias, mas precisamos saber digerir e para isso precisamos escolher o que engolir primeiro. Não podemos mastigar o que simplesmente nos é posto no prato sem sentir o gosto. A internet, por exemplo, é hoje o canal de consumo mais poderoso que possuímos. As redes sociais funcionam como um bufê de "como o quanto puder", a era do "tudo por um clique” e o número de visualizações determinam o “sucesso/qualidade" começou. Chamadas apelativas, vídeos bizarros, propagandas sem sentido e livros de qualidade duvidosa estão se alastrando como uma praga que consome nossa comida enquanto ela está na dispensa. É duro ver palavras sendo desgastada como guardanapos de papel sob uma mesa de bar. "Fenomenal!", "Espetacular" e até mesmo "genial" vem caindo enquanto parâmetro de avaliação. A mídia virou uma entidade, citada como se fosse um Deus que comanda ditatorialmente. Como se nós, enquanto indivíduos, não tivéssemos responsabilidade no que ganha destaque. Como se educação cultural não fosse a base. Como se o Deus mídia mandasse em nós sem prestar contas. Às vezes vejo um rio de tudo pode que temo por desembocarmos numa mar de nada presta. Ok, fui bem pessimista. Mas há algo errado em tudo isso. Repito: cultura diverte, instrui e faz bem, sem ser chato. Todos devem ter seu espaço, e o que pesa é como "consumimos" cada coisa. Por que como me ensinou a cultura popular passada a mim por minha mãe. "Dia de muito, véspera de pouco".