Texto: Saudade é uma coisa boa.

Fotografia: Lucas Jasper.

Acho que não sentimos saudade, vivemos saudade. Esse sentimento que muitas vezes começa singelo, discreto e inofensivo tantas vezes se faz crescer e se torna em parte um tipo de companhia. Saudade sem reencontro não passa. Se transforma. Cada pensamento é instante de saudade, essa emoção constante que anda ao lado.

Certa vez ao me despedir de uma amiga ela me olhou nos olhos e não me disse nada. Olhando para ela eu disse: nossa vou sentir saudade. Com um olhar de quem agora queria retribuir aquilo da melhor maneira possível ela não me disse um simples "eu também", incrivelmente disse:

- Saudade é um coisa boa. E assim em sequência me sorriu.

Anos se passaram e ainda sinto saudade (da amiga também). Mas hoje entendo, saudade é mesmo uma coisa boa. É a dose medida em grãos ou gotas, é a ampulheta que se vira sozinha e marca o tempo com decigramas de precisão e mililitros de sabedoria. Saudade é saudade e sempre será.

A quem pense, sinta ou ambos que saudade é melancolia, depressão ou solidão. Pode ser, em muitos casos certamente é. De fato há momentos que é difícil sentir, entender ou aceitar. As vezes ela é um duro golpe que acontece sem aviso, outras vezes é uma visão inevitável, difícil de crer e impossível de absorver. Algumas vezes tem só um lado, as vezes dois e tantas vezes vários. As vezes usa a razão para compreender e apoiar, usa a fé para se apoiar e a negação para se manter de pé. As vezes o joelho dobra, as costas pesam, as mãos tremem e por fim às lágrimas caem. As vezes elas caem primeiro. Em mim tantas vezes assim foi e até hoje tive a sorte de ver o revés. Lágrimas que caíram primeiro, mãos que tremeram, costas que pesaram, joelhos que se dobraram, e um eu te amo que me saiu a boca para aquela pessoa que eu não sabia quando veria novamente, e para as que tive certeza que não veria mais em vida. O revés me fez estar mais próximo, ver diferente, ajudou a buscar ser melhor, aprender mais, compartilhar mais, e viver junto mesmo sem estar ao lado.

Saudade é uma força incontrolável que exige, uma força que exige força. Força de viver com ela sem deixar de viver, um seguir sem solidão, um porta-retrato vivo que exibe imagens constantes em alta definição, imagens vivas, fortes, e em todas as cores.

A saudade arrebata corações e mentes com movimentos sincronizados entre memórias e bons sentimentos. A saudade para mim tem cheiro de pão quente na padaria. E cada qual sente sua saudade com seu cheiro e, portanto, de seu jeito. Há quem veja algo de maneira que jamais houvera visto, há quem veja coisas que nunca de fato tivera visto. Existem tantas, de todos os tipos. Uma casa de infância, um filho e uma mãe, um marido e uma esposa. Um perdão. Um até logo.

Por anos a fio vivi saudades das pessoas que amo. Sempre estive com saudade de alguém. Quando longe estive da família e amigos, outras famílias e amigos se fizeram presentes, mas meu pensamento sempre me dizia que se longe estava, com propósito deveria estar, se bom era, então a saudade sempre me faria mais forte. A mim eu estava certo. A saudade mais ainda, me motivando a aproveitar cada instante na busca de ser melhor. Não podia desperdiçar a falta da presença com alguns, pagando com ausência, e sendo mais um sem rumo. Assim a saudade me ensinou tanto que pude perceber o que minha amiga havia me dito. Saudade é sim coisa boa. Obrigado.

Saudade não é falta do que não se está vivendo, não é falta de estar em algum lugar, saudade é falta do que te faz bem, do que te faz melhor. É querer mais quando se viveu tudo. Queremos sempre mais. Saudade é a lembrança do tanto que se teve. Tanto, mais tanto, que até coisas ruins e mágoas são riscos numa superfície de felicidades que nos enche de saudade.

São tantas saudades, são tantos querer mais. É um ente amado que se vai, é um sorriso que se recorda, é uma conversa sem intento, é alento é alento. Saudade tantas vezes é tudo aquilo após um adeus, um silêncio, uma desejo de dizer eu te amo também. Novamente.

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